A curatela e o jogo do tigrinho

A curatela e o jogo do tigrinho

Recentemente fui convidada para dar uma aula sobre curatela na Comunidade Advogando em Família, da Camila Masera. É a maior comunidade de advogados familiaristas do Brasil.

É muito bom estar em comunidade e poder trocar experiências. Durante a aula, uma aluna me perguntou: a curatela pode ser uma boa solução para o jogo do tigrinho? Olha que pergunta mais perspicaz! E a resposta é: claro que pode.

A curatela pode ser uma medida eficaz para conter as graves consequências do vício em apostas.

A onda do jogo do tigrinho

Fortune Tiger é um jogo de apostas, uma espécie de cassino online, desenvolvido por uma empresa que não está registrada no Brasil. Entre nós ficou conhecido como o jogo do tigrinho justamente por ter como símbolo o desenho de um tigre jogando jogos de azar.

Ao longo de 2023, o jogo do tigrinho ficou muito popular no Brasil, seja por campanhas massivas por meio de perfis falsos no Instragram, seja pela publicidade feita por grandes influenciadores. As promessas eram sempre de ganhos impressionantes em pouco tempo.

O jogo do tigrinho opera como uma máquina caça-níqueis e, como em todo jogo de azar, não é uma forma de ganhar, mas de perder dinheiro. Muito dinheiro.

Famílias inteiras estão viciadas no jogo do tigrinho e há casos graves em que um membro da família endivida a todos por causa da compulsão pelo jogo. Por se tratar de uma aposta em que o resultado é muito rápido, o poder de adição é maior que os jogos offline.

Jogo patológico

Conforme informações trazidas pela Rede D’Or, o jogo patológico é um distúrbio psiquiátrico que se refere ao vício em jogar. Esse nome é dado porque o comportamento da pessoa é persistente e, apesar das consequências negativas que o ato pode trazer, ele é mantido. Nesse caso, o paciente se torna inapto para administrar o tempo e o dinheiro gasto. 

Em entrevista muito esclarecedora do Dr. Hermano Tavares ao portal do Dr. Dráuzio Varella, é explicado que o jogador compulsivo tem uma memória seletiva. Ou seja, mesmo jogando vinte vezes e perdendo em dezenove delas, ele vai lembrar da vez que ganhou e internalizar uma vantagem financeira. Ele não será capaz de identificar o prejuízo muito maior do que o pequeno ganho que teve.

Com isso, a pessoa perde a crítica sobre a sua condição e demora a compreender a gravidade da situação. O mais comum é que o jogador esconda que está jogando e tem vergonha de contar os prejuízos que já teve. Frequentemente, quando se descobre que é uma compulsão, o jogador já está afundado em dívidas e, por vezes, já contraiu dívidas em nome de outras pessoas da família, colocando em risco o sustento e a estabilidade financeira do núcleo familiar.

A curatela como mecanismo de contenção das dívidas

O jogo patológico não se resolve sozinho. É um transtorno que precisa de múltiplas intervenções. É uma doença comportamental que precisa de terapia. Além disso, estima-se que, em 70% dos casos, além do jogo patológico, existe outra condição psiquiátrica associada, como depressão, fobias, transtorno do pânico e dependência de algumas substâncias. Nestes casos, muito provavelmente vai demandar a prescrição de medicamentos para um tratamento efetivo.

Contudo, até que o jogador decida aderir ao tratamento ou até que o tratamento faça efeito, as finanças da pessoa e de sua família estão em risco. Há pessoas que, infelizmente, vendem até a própria casa.

Nesta situação, a curatela pode ser um mecanismo de apoio para que, ao menos, a pessoa não consiga gerenciar as contas, vender bens e tomar empréstimos por um tempo. A curatela é uma medida prioritariamente financeira e, neste caso, deve ser somente para a administração de contas e patrimônio. Todas as decisões existenciais serão mantidas pela pessoa em tratamento.

Tratar uma compulsão, assim como a aplicação da medida de curatela são tabus na nossa sociedade. Mas a interdição, nesses casos, pode ser um apoio importante para paralisar os gastos e as dívidas.

O levantamento da curatela depois do tratamento

É importante que se saiba que curatela não precisa ser definitiva. Aqui no site já explicamos que a curatela pode ser revertida.

Caso a pessoa se engaje no tratamento, consiga melhorar os sintomas e pare de jogar, ela pode e deve ter a curatela levantada. Assim, ela volta a ter plena administração de sua conta e de seus bens.

Procure ajuda

Como bem explicado na matéria do site do Dr. Drauzio, acima mencionada, a tendência ao jogo patológico não significa falta de caráter ou fraqueza moral. É uma doença comportamental semelhante à dependência química dos usuários de álcool e outras drogas e, como elas, tem tratamento. O ideal é que os familiares e o próprio jogador patológico se convençam de que devem admitir o problema e procurar a orientação de profissionais especializados em saúde mental. O jogo patológico é um transtorno psiquiátrico e não um desvio de caráter. Encará-lo de outra forma só trará dissabores e sofrimento.

Por isso, é muito importante procurar ajuda. Primeiramente, ajuda médica de um psiquiatra. Depois, a ajuda psicológica. Os jogadores anônimos podem ser um apoio importante. E não se deve negligenciar as questões jurídicas do jogo patológico – é essencial procurar um advogado especializado em curatela.

Aproveite para ter acesso ao nosso e-book gratuito Tudo que você precisa saber sobre curatela.

Baixar e-book: Tudo que você precisa saber sobre curatela

Categorias

Envie suas dúvidas e opniões

A Dra. Laura Brito está pronta para esclarecer suas dúvidas e oferecer a direção que você precisa e merece.

Gostou deste conteúdo e acredita que ele pode ser relevante para alguém? Compartilhe!

Se você procura um advogado especialista em curatela, certamente, a Dra. Laura Brito, dará o direcionamento que você necessita.

A curatela necessita de acompanhamento, profundo conhecimento e respeito a sua família.